A maioria dos políticos ocidentais foi convencida a usar o termo Daech visto que é mais ofensivo para o ISIS por razões que serão abordadas neste artigo. Contudo, deve-se desde já dizer que o Ocidente perdeu a vergonha pela maneira como desfila a sua ignorância – em tempos, uma região do Iluminismo, hoje uma região do Obscurantismo.
Definição
Daech é um acrónimo arábico para ad-Dawlah al-Islāmiyah fī 'l-ʿIrāq wa-sh-Shām, ou seja, o Estado Islâmico do Iraque e da Síria – ou ISIS como manda o código internacional para o grupo. A palavra al-Dawla significa dinastia ou estado; e isto é importante reter quando lermos alguns argumentos que pretendam explicar porque é que Daech é “mais ofensivo” que ISIS.
Os Argumentos
Simpatizo imenso com essa perspectiva. Claro que os nossos interlocutores no Golfo e os aliados da nossa coligação referem-se ao grupo como Daech, e como o Primeiro Ministro relatou na segunda-feira, conseguimos fazer com que a BBC deixasse de lhes chamar qualquer tipo de estado. - Michael Fallon, Ministro da Defesa Britânico
Já me referi ao grupo como ISIL quando escrevo à mão, e poderá ser demasiado tarde para substituir “ISIL” por “Daech”, mas a Exma Senhora Deputada da Câmara dos Lordes está correcta quando diz que precisamos de reflectir acerca do assunto e não conceder ao ISIL nem mais uma ponta de legitimidade. - idem
O Daech detesta que lhe chamem isso e o que quer que eles não gostem, para mim tem uma atracção instintiva. - PM Tony Abbott
Estes argumentos são hilariantes. Claro que as pessoas que falam Arábico chamarão o ISIS de “Daech” (trata-se afinal de um acrónimo arábico); claro que a BBC lhes chama de IS/EI (Estado Islâmico) não só porque é simpatizante de todas as coisas Islâmicas mas também porque o D em Daech significa Estado (al-Dawah). Claro que não lhes devemos conceder um resquício de legitimidade só que substituir um acrónimo inglês por um arábico não é exactamente a receita para a deslegitimação do grupo, e para além do mais quem quer que tenha feito tal sugestão deverá ser investigado porque há uma dissimulação interessante por detrás de tal proposta (mas já falaremos disso adiante). E não, o Daech não odeia ser chamado como tal, mas talvez ache inconveniente o emprego de tal termo quando sabem que a maioria dos ocidentais são ignorantes no que toca às línguas do Médio Oriente (todas, incluindo o Hebraico), logo termos como ISIS/IE são mais fáceis para a disseminação da propaganda e para a recruta junto daqueles que ainda não falam arábico.
ISIS, ISIL ou IS/EI?
Se o Ocidente está tão preocupado em deslegitimar o grupo terrorista então deveria decidir-se de uma vez por todas acerca do significado de al-Sham: Síria ou Levante?
Se empregarem o termo ISIS então delimitarão o grupo ao Iraque e à Síria (para desgosto dos defensores do Sykes-Picot, i.e. Os proponentes do Status Quo). Limitar o seu controle a estes dois lugares através do verbo é uma arma de deslegitimação mais poderosa do que trocas semânticas insidiosas. Restringir as suas operações ao Iraque e à Síria, ao mesmo tempo que se unem (mesmo com a Rússia, se necessário for) para combater o grupo de forma eficaz, revelar-se-ia mais produtivo.
Se empregarem o termo ISIL estarão a dar poder ao grupo porque não só estarão a reconhecer o seu poderio como também legitimam os seus objectivos expansionistas de estabelecer um estado no Iraque e no Levante (Síria, Líbano, Israel, Jordânia e a Faixa de Gaza [i.e. Estado da Palestina]). Por isso, quando o Presidente Americano, e outros, usam o termo “ISIL” na verdade dão a impressão de estar a experienciar um Lapsus Linguae, desejando (no fundo) que aqueles terroristas atinjam aliados como Israel e a Jordânia.
Se empregarem o termo IS/EI estarão então a alargar a sua legitimidade ao resto do mundo. Por meio de palavras mais simples, eles legitimam a jihad global (o que não seria assim tão estranho porque já legitimaram um dos seus vários nódulos – a Causa Palestiniana). Por isso, quando a BBC é criticada por alguns por usar o termo IS até têm alguma razão, mas depois esses mesmos críticos estragam tudo ao substituirem o termo por um acrónimo que lhes dá ainda mais poder.
Conclusão
Usar o termo Daech é como estar finalmente a reconhecer, em arábico, o poderio do Grupo Terrorista em questão. Se as pessoas pensavem que usar acrónimos ingleses/portugueses legitimavam a organização, empregar o acrónimo arábico representa a submissão ao inimigo e aos seus costumes. Logo, o grupo está na verdade muito feliz por os políticos ocidentais finalmente perceberem e os ajudarem a promover a sua causa de gratis junto dos seus jovens recrutas, a quem dizem coisas como “Bismill'ah, os Kufar estão a ser postos de joelhos e Allamdulillah pelo bom trabalho dos nossos irmãos e irmãs infiltrados que conseguiram fazer com que eles reconhecessem o Islão como uma cultura superior, o Arábico como a língua superior, e o Daech como o Khilafa: Allah hu Akbar!”
(Imagem: Palmyra, Síria - Google Imagens)
[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]
Bem explicado, Max. Anda tudo tão ávido de dar graxa a esses muçulmanos que já ninguém pensa, ninguém raciocina.
ResponderEliminarOlá Anónimo :D!
EliminarObrigada, fico feliz por ter gostado. Parece ser assim, sim.
Um grande bem haja pelo seu comentário :D.
Cumprimentos