De Max Coutinho
O mundo ficou quieto perante o genocídio no Ruanda. Onde estavam a CNN, a BBC e outros na altura? Certamente, não no Ruanda. Onde estavam a América, a França, a Grã-Bretanha e a União Europeia? Estavam a seguir os eventos em silêncio. Onde esteve a ONU e as suas agências humanitárias? Concentradas nos eternos refugiados palestinianos. Mas agora, estes actores acham-se no direito de se meter nos assuntos ruandeses e pressionar o país para seguir paradigmas ocidentais.
A Democracia Liberal não é receita para África
O Povo do Ruanda participou num referendo, no ano passado, de modo a alterar a constituição para permitir que Paul Kagame concorra a um terceiro mandato. 98% do eleitorado votou (uma taxa de comparência às urnas de meter inveja aos ocidentais) e a maioria deu permissão ao seu presidente para continuar a desenvolver o seu país.
Quando chegar a hora de transferir a responsabilidade de um funcionário público para outro, os ruandeses já terão a confiança de que a transferência será feita de modo ordeiro e harmonioso como todos nós esperamos e de facto exigimos. - Paul Kagame
Os ruandeses não são os únicos a sancionar o terceiro mandato do seu líder: o Congo Brazzaville fez o mesmo, e o povo do Uganda poderá acabar por fazer o mesmo em breve. Este desenvolvimento é extremamente importante porque África poderá vir a provar que ou a democracia liberal está a morrer ou então que a democracia liberal é um valor ocidental que não se aplica universalmente. Tal prova é um ataque aos egos de investigadores académicos estagnados, e de burocratas ainda mais estagnados, que induzem os políticos a cometer erros crassos.
Os inflexíveis proponentes da democracia liberal são aqueles que apoiam a corrupção (especialmente a corrosiva), porque nas democracias liberais certos grupos, e as suas redes, controlam o sistema e alimentam-se dele - em detrimento do bem-estar do povo. Enquanto que nas democracias iliberais eficientes, monarquias etc, a rede do sistema é mais apertada, fazendo com que seja mais difícil a proliferação da corrupção corrosiva e a deterioração do bem-estar do povo.
O Ruanda é uma história de sucesso: é eficiente, e cumpre o que promete. O Ruanda providencia desenvolvimento humano para o seu povo. O Ruanda coloca os seus cidadãos em primeiro lugar, e conseguiu algo (sem recorrer à usual retórica feminista) que os países ocidentais não conseguem: 64% do seu parlamento é composto por mulheres. Este nível de sucesso é problemático para o ocidente porque, mais uma vez, faz prova de que o seu modelo não só não é mais a única opção para desenvolver um país, uma sociedade, como também não o ajudou a atingir muitos dos seus próprios objectivos, principalmente no que toca às mulheres na política.
O Modelo Kagame
- Mercado Livre: tarifas baixas, política fiscal flexível, liberdade para investir, liberdade para colocar e retirar capital do país, e uma política de competição livre – ler Aqui como o mercado das telecomunicações, na Ruanda, marcou 2015 com a inovação.
- Aceleração do Crescimento, redução da pobreza e da desigualdade através do desenvolvimento rural, da produtividade e do emprego jovem.
- Emergência de um sector privado viável para ser o principal motor de crescimento da economia.
- Melhoramento da produtividade e rendimentos dos pobres através do desenvolvimento rural e de políticas de protecção social.
- Foco no seguintes objectivos até 2018: aumentar o PIB per capita para $1.000, ter menos de 30% da população abaixa da linha de pobreza, ter menos de 9% da população a viver na pobreza extrema.
- Um Sistema de Educação de Alta Qualidade (Ler Aqui, em Inglês).
- Imputabilidade do Governo através da gestão público-financeira e da descentralização.
O modelo está a funcionar para o Ruanda; tanto que os tanzanianos olham para Paul Kagame como o exemplo de um líder africano; e em 2015 elegeram o Presidente John Magafuli que está a ser acusado de Ruandizar a Tanzânia só porque ele quer fazer com que o estado seja mais eficiente e menos corrupto (de modo a canalizar fundos para o Desenvolvimento Humano do seu povo).
O modelo Kagame parece simples mas só poderá funcionar, para o resto de África, via um paradoxo: por um lado, altruísmo político (i.e. pôr as pessoas em primeiro lugar para ganhar a sua confiança) e, por outro lado, muito controle político (i.e. controlar o meio ambiente com uma mão forte). E claro, para ser eficiente, o Povo dos outros países africanos têm de confiar nos seus líderes de modo a lhes concederem o mandato que precisam para limpar a casa.
Os ruandeses querem uma boa política que cumpra o que promete, também esperam uma democracia na qual o poder público é rotineiramente transferido de um indivíduo da sua escolha para outro, mantendo-se no entanto o poder e a decisão nas mãos do povo – idem
Se as pessoas quiserem mesmo o desenvolvimento de África e da sua população, têm de abandonar a sua miopia ideológica e apoiar o modelo Kagame. Por isso, pergunto de novo: o que é mais conveniente; ter uma nação iliberalmente democrática, ou mesmo uma ditadura militar, onde o desenvolvimento humano é alto; ou ter uma democracia liberal onde a corrupção corrosiva é comum e o desenvolvimento humano é imoralmente baixo?
[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]
Olá, Max!
ResponderEliminarO Ocidente é de uma hipocrisia estapafurdia: o presidente do Rwanda, contra tudo e contra todos, está a reerguer o seu país e, o povo está unido e pouco a pouco estão a pôr para trás das costas os horrores da guerra civil na qual pereceram 1.000.000 de rwandenses.
O presidente do Rwanda, com sucesso, criminalizou a violência doméstica; as mulheres que gostam e se interessam pela política estão no parlamento; as mães solteiras são ajudadas através do trabalho a providenciar pelos filhos e a mandá-los para a escola; os cidadãos seniores são respeitados; os jovens estão engajados em tarefas comunitárias; o sistema educativo é de alto nível; o país está limpo; a corrupção está contida e, o Rwanda tem como objectivo aumentar o rendimento per capita para $1.000 etc; etc...
O Paul Kagame governa o país com pulso de ferro? Sim, é verdade mas não viola os direitos dos seus cidadãos.
Então porque é que perseguem este homem? O que quer o Ocidente, na verdade, do Rwanda?
Pouco ou nada interessa: o presidente Kagame já os mandou a todos dar uma curva pelo "bilhar grande" passe a expressão.
Será o Rwanda o Israel de África? Pensa nisto Max...
Olá Lenny :D!
EliminarRealmente. Mas aparentemente, servir os interesses do povo já não é do interesse de ninguém. É bonito falar do desenvolvimento humano e da luta contra a pobreza em público,mas depois quando perante um político que o faz na verdade (não se fica só pelas palavras) o melhor é deitá-lo abaixo antes que as pessoas se apercebam de que afinal eles nada fazem daquilo que falam...capito?
Boa...se calhar é isso mesmo: o Ruanda é o Israel de África, assim como a Singapura o é da Ásia (segundo um amigo).
Lenny, obrigada pelo teu super comentário :D.
Beijocas
"Será o Rwanda o Israel de África? Pensa nisto Max..." meus amores, já pensei e concordo com a lenny!!! Ela tem razão.
EliminarOlá Raquel :D!
EliminarNão discordo da Lenny, só não havia feito essa comparação :D.
Beijocas