Ontem, revimos a previsão acerca dos EUA. Hoje, viramo-nos para a Índia e o Japão. Em Janeiro, previmos que estes dois países fossem aprofundar os seus laços para reconquistar uma posição de liderança na Ásia; será que acertámos na previsão?
Indicador D: Índia e Japão – Poderios Asiáticos
No princípio deste mês, o PM Abe visitou a Índia e, segundo relatórios (e.g. este), a visita foi bem-sucedida, tendo resultado na assinatura de acordos há muitos desejados: um acordo nuclear e o comboio de alta velocidade entre Mumbai-Ahmedabad. Para além do mais, a Índia e o Japão assinaram vários pactos de defesa que terão um grande impacto na economia dos dois países.
O Primeiro-Ministro Modi gosta de ideia de uma relação trilateral Índia-EUA-Japão a controlar o mundo. - Jyoti Malhotra
Durante 2015, foi interessante ver que tanto a Índia como o Japão se aproximaram dos Estados Unidos (tendo o PM Abe sido o primeiro líder japonês a falar perante o Congresso americano) e de Israel (tendo a Índia, desde que o PM Modi foi eleito, se tornado cada vez mais pró-Israel) – como meio de impulsionar a sua vantagem tecnológica e de defesa, em relação à China (um país que não só apoia as ambições militares do Paquistão como também tem revelado um comportamento agressivo no Mar do Sul da China ao reclamar território japonês).
Defesa
De acordo com Kanwal Sibal, ex-embaixador, os dois países estão prestes a co-desenvolver e a co-produzir tecnologia de defesa. Ademais, a expansão de laços no campo da defesa entre a Índia e o Japão traduzir-se-á no seguinte:
- A participação japonesa no Exercício Malabar com a Índia-EUA para “ajudar a criar capacidades mais fortes para lidar com os desafios marítimos na região Indo-Pacífica”
- A assinatura de dois acordos relacionados com a defesa (1- Transferência de Equipamento e Tecnologia de Defesa e 2- Medidas de Segurança para Protecção de Informação Militar Secreta)
- Cooperação mais próxima entre a Índia e o Japão como factor vital para ter paz, estabilidade e desenvolvimento na região Indo-Pacífico (indispensável à segurança nacional e à prosperidade dos dois países)
- A troca de informação para a prevenção de, e combate ao, Terrorismo.
O timing da assinatura destes acordos é importante porque tudo ocorreu após o PM Abe ter conseguido assegurar as necessárias alterações à Constituição Japonesa, que permite que o Japão desempenhe um papel mais relevante na segurança internacional. Logo, quando dois líderes nacionalistas fortalecem os laços com os seus respectivos países, é necessário que compreendamos o seu desejo de terem uma maior participação na nova ordem do mundo.
Economia
A Índia e o Japão assinaram parcerias nos campos da infraestrutura, na indústria manufactureira e alta-tecnologia, que incluiu sistemas de transportes avançados, geração de energia solar, energia nuclear civil, espaço, bio-tecnologia e terra rara.
Ambos procuram a sinergia entre a política do “Agir a Este” da Índia e a “parceria para a qualidade de infraestrutura” do Japão, que poderá ajudar a desenvolver a conectividade dentro da Índia e a nível regional. - Kanwal Sibal
Naquilo que é mais um sinal do aprofundamento de laços entre os dois países, a Índia decidiu que os visitantes japoneses terão vistos à chegada, a partir de Março de 2016 (fazendo com que o Japão seja o primeiro país a beneficiar de tal medida). Por isso, se a China estiver a seguir de perto os desenvolvimentos entres estes dois aliados, ela tem motivos para se preocupar porque apesar do Japão ter sido sempre um importante parceiro económico da Índia, jamais fora um parceiro estratégico; mas agora a sua relação está a tornar-se tanto económica como estratégica, aumentando assim a aliança e importância geopolíticas.
Actores Geopolíticos Vitais
Em Janeiro, partilhámos as palavras de Rohan Mukherjee e de Anthony Yakazi “Beijing segue de perto a evolução dos laços entre a Índia e Japão e, a longo prazo, pretende prevenir uma aproximação excessivamente calorosa entre estes seus dois rivais.” mas aparentemente os esforços de Beijing foram minados pelo PM Abe e pelo PM Modi que claramente assumiram o papel de líderes, especialmente no que toca à disputa no Mar do Sul da China:
Modi e Abe apelaram a todos os estados a evitar acções unilaterais no Mar do Sul da China que poderiam conduzir a tensões na região. - idem
Definitivamente, a Índia e o Japão posicionaram-se como líderes regionais, desafiando a China o bastante mas não a ponto de intensificar as tensões para um nível bélico.
Veredicto
O Japão e a Índia aprofundaram os seus laços? Sem dúvida alguma. Tornaram-se o Poderio Asiático? Sim. O sucesso político do PM Abe (em casa) e a compreensão que o PM Modi tem de que a Índia precisa de uma política externa forte, colocou os dois líderes numa posição auspiciosa para fazer os devidos acordos para que possam ter um papel mais activo na região, e talvez no mundo (futuramente falando).
Este é o fim desta série: obrigada por a terem lido. Que em 2016 continuemos a trazer-vos artigos fiáveis e de qualidade.
Feliz Ano Novo!
(Imagem: Heaven's Eternal Land - Asian Bonsai Painting - Frank Ignizio)
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