Tenho andado a ler alguns textos sobre a Roma Antiga e, apesar de não concordar com muitas das coisas que caracterizam aquela sociedade (escravatura, iliteracia feminina, Patrio-Poter etc), admiro imenso os valores morais pelos quais os Romanos se regiam, afim de conduzirem uma boa vida:
- Virtús: sacrifício, resistência à dôr, autodomínio, coragem. A observância destas virtudes atraía o respeito em vida, e a lembrança após a morte.
- Pietas: observância escrupulosa dos deveres religiosos, cívicos e familiares. Deveres religiosos – respeito pelos deuses, e cumprimento do seu Destino (fatum). Deveres cívicos – ser um bom cidadão. Deveres familiares – respeitar e amar o pai, seguir os seus conselhos e, reconhecer a sua autoridade moral.
- Fidés: respeito pelos compromissos tomados. Um juramento era um acto sagrado, que presidia tanto na vida cívica como na vida social (contratos entre cidadãos e tratados entre nações).
- Gravitás: seriedade e compostura. Este valor caracterizava-se pela preocupação em manter uma boa reputação individual, através do cumprimento dos deveres e ocupações.
- Constantia: firmeza de carácter, capacidade para resistir a tudo quanto possa desviar da manutenção de uma atitude digna e, que afaste um indivíduo da prossecução do fatum. Este valor implicava autodomínio, disciplina e, obediência a princípios morais.
- Industria: zelo e apreço por um actividade bem executada. Este valor estava presente nas questões de Estado.
- Comitás: benevolência e afabilidade. Este valor servia para temperar a Gravitas, sem a excluir.
Concluída a minha leitura, ao som de “Toccata e fuga” de Bach, pensei para mim mesma “Embora a nossa sociedade tenha evoluído imenso (a nível dos direitos das mulheres, dos direitos humanos, tecnologia), mesmo assim tornou-se decadente!”
Em vez de nos preocuparmos com a nossa saúde moral, decidimos não só negligenciá-la como também arquitectar um novo conjunto de valores:
- Anti-Deus: está na moda. Contudo é um grande passo em direcção ao niilismo.
- Anti-Família: falta de estratégia. Negar a família é dar um pontapé no sucesso.
- Anti-Estado: a recusa em exercer o direito de voto, o comportamento fraudulento contra a nação (i.e. evasão fiscal) e, no fim demonstrar um descaramento sem tamanho ao exigir melhores condições na saúde, educação, e pensões de reforma, na sua totalidade, para todos.
- Materialismo: ninguém mais está interessado em conduzir uma boa vida; agora batalha-se por ter aquilo a que se chama “boa vida”.
- Futilidade: culto à superficialidade. Falta de intenções e propósitos na vida; desrespeito pela herança intelectual.
- Corrupção: (Comitas foi substituída pela corrupção) em vez de aspirarem à sublimação dos comportamentos, as pessoas (afim de aquietarem os seu próprios demónios) querem ser compradas e, vendem-se, por tuta e meia.
O acima descrito pode ser considerado como evolução do comportamento, ou ainda como uma tendência das sociedades modernas, contudo cheguei à triste conclusão de que, em pleno século XXI, como indivíduos, grupo, sociedade e nações estamos moralmente falidos.
E agora convido-te a continuares a experiência Graffiti com...
Livingsword
Anti-Deus
ResponderEliminarDepende do conceito de Deus de cada um. Na minha opinião pessoal, não acredito em Deus enquanto entidade superior, mas como energia. Se tem consciência ou não, não sei. Será esta uma posição anti-Deus?
Anti-Família
Isso não depende um pouco do conceito de família? É que, o meu conceito de família pode ser diferente do teu e, por consequência, parecer, para ti, uma posição anti-família. Não sei, apenas foi algo que me veio em mente.
Anti-Estado
Concordo contigo. Se queres direitos cumpre os teus deveres.
Materialismo
Infelizmente a sociedade obriga-nos a pensar neste aspecto. Para uma pessoa não materialista como eu, este ponto afecta-me porque obriga-me a ter pensamentos anti-naturais para mim.
Futilidade
Eu nem vou comentar este senão não haveria espaço. Mas é uma grande infelicidade... e um grande pontapé no estômago.
Corrupção
Ah! O que seria a vida sem corrupção? Onde todos temos preços... Realmente. Enfim...
É bom saber que nós pregamos ser aquilo que nunca fomos: seres evoluídos.
Enfim...
Abraços Max e excelente post.
Completando o meu comentário anterior (e deixei um post no meu blog falando do assunto deste comentário).
ResponderEliminarFutilidade. Os dicionários relacionam futilidade com inutilidade. Útil e fútil são palavras antagónicas. Quem se dedica a coisas inúteis ou de pouca importância e lhes dá valor excessivo é, pois, uma pessoa que se ocupa do inútil. Pessoas fúteis são, portanto, pessoas superficiais. Supervalorizam o relativo e são incapazes de se aprofundarem no que quer que seja. Vale o momento e o brilho daquela hora. Canonizam o acidental e encontram dificuldades em 'ir ao essencial'. Vale mais o lacinho azul do que a qualidade e a durabilidade do sapato. Gastam numa noite de aplausos e elogios o que, depois, precisam pagar por 24 meses. Pagam 100 euros por um biquíni que na outra loja custava apenas 22,50, mas não era de marca. O vestido de noiva custou 5 mil euros e os noivos juntos ganham 1.600. Mas o que diriam as amigas se ela apenas alugasse o vestido? O cabeleireiro da esquina cobra três vezes menos e faz o mesmo trabalho, mas o outro é frequentado por gente rica e famosa.
Há homens e mulheres fúteis. Há programas de rádio e televisão que focam o tempo todo com a futilidade. Há religiões que se preocupam com o fútil. O que é útil e importante para uma pessoa pode não ser para a outra. Por isso não temos o direito de chamar fútil a pessoa que considera importante, aquilo que achamos sem nenhuma utilidade. Mas há certamente um tipo de mensagem, um tipo de conversa e um tipo de sermão que acentua o tempo todo o fútil. Detalhes mórbidos da vida íntima dos outros, da roupa íntima da actriz, do que o galã de Sunset Street lá em Hollywood teria dito à ex naquele baile. Quem namora quem, entre os famosos. É difícil não considerar fútil uma pessoa que gasta horas, preocupada com detalhes de cor e de lentejoulas da roupa do outro que jamais viram ou verão em pessoa. O sujeito morreu e a pessoa fútil é capaz de descrever quem estava lá e que roupa estava usando. Para ressaltar o bom gosto do enterro.
As avaliações são feitas com base na imagem. As pessoas namoram não porque a pessoa é inteligente, carinhosa, simpática, amiga, capaz de grandes sacrifícios. Não. Namoram porque a pessoa faz com que o fútil se destaque. Porque o outro é bonito, atraente, alto, musculado, com dinheiro. Não há espaço para valores sentimentais. Não há espaço para se abrir.
Para mim, uma pessoa fútil é uma pessoa que tem medo de revelar quem realmente é, de se mostrar humano. E esconde-se debaixo de um véu de contactos superficiais e preocupações banais. Tudo porque não consegue lidar com os assuntos realmente importantes da psique e da vida.
Algo do género.
Olá Max
ResponderEliminarTambém gosto muito de ler sobre história, apesar de ultimamente estar lendo mais sobre outros assuntos como psicologia, filosofia.
Se estudarmos com maior profundidas as diversas civilizações ao longo do tempo veremos que não mudou muita coisa em relação a determinadas atrocidades que aconteciam principalmente em relação a direito do cidadão, cobrança de impostos, sede desmedida pelo poder, corrupção como você mesmo disse,mas algo mudou, e essa mudança foi de cunho comportamental e como todos sabemos "toda ação gera uma reação..." e em cada tempo essa reação se dá de forma diferente, o problema é causar uma desesperença em relação a familia, crenças religiosas, companherismo, amizade e com essa falta de esperança em sentimentos bons pode gerar tudo isso que presenciamos em nossa sociedade atual como idolatria ao dinheiro, poder, falta de nacionalismo entre muito mais coisas...
Bem... Max foi muito bom estar por aqui...gostei muito do assunto.
Até a próxima