O Discurso da UNGA 2016 do Presidente Brasileiro: Armas Nucleares


O Presidente do Brasil, Michel Temer, fez um discurso interessante perante a Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA), na passada Terça-feira. Começou por abordar o que parece ser o tema da ONU este ano – diversidade (leia-se tolerância racial, religiosa, cultural); depois, enviou um sinal de reaproximação à América (ao ecoar declarações feitas no passado pelo presidente Obama) e criticou ligeiramente o historial da ONU. Contudo, o discurso do Presidente Temer também foi muito ambicioso na medida em que ele busca mais proeminência internacional para o seu país.

O discurso de Michel Temer foi mais realista do que o da Presidente Dilma, há dois anos, já que ele abordou assuntos que afectam o mundo, revelando assim que o Brasil tem estado a seguir de perto os eventos globais (neste aspecto, a Presidente Dilma parecia estar perdida, mas deve-se partir do princípio de que ela estivesse mais focada na política interna). Não obstante, o que realmente captou a nossa atenção foi o apelo do presidente à comunidade internacional para combater o crime organizado que muitas vezes serve de alicerce ao terrorismo internacional:
Desafios vários transcendem fronteiras nacionais. Entre eles está o tráfico de drogas e de armas, que se faz sentir nas nossas cidades, escolas, e nas nossas famílias. Combater o crime organizado requer que trabalhemos juntos. A segurança dos nossos cidadãos depende da qualidade da nossa acção colectiva. (Tradução: Max Coutinho)

Infelizmente, o Brasil também enviou sinais de que não pretende ser próactivo na questão Palestiniano-Israelita: irá continuar a enfiar a cabeça na areia e a repetir o mantra desgastado da solução de dois estados e as negociações de paz (ainda que a  OLP não esteja minimamente interessada em tal processo). No entanto, a posição brasileira é compreensível já que não deseja admitir que apoia abertamente a Jihad Global ao permitir que a OLP, e outros grupos Jihadistas, operem  livremente no seu território.




A mais importante referência que Michel Temer fez no seu discurso foi a preocupação que o Brasil tem com as armas nucleares. Aparentemente, Brasília está extremamente preocupada com os testes nucleares da Coreia do Norte e com as “mais de 15.000 armas nucleares no mundo (..) que representam 15.000 ameaças à paz e segurança internacionais.”

O Brasil começou a desenvolver um programa nuclear durante o regime militar, na década de 1960. Depois que o regime acabou, o programa adormeceu; contudo, quando o Presidente Lula foi eleito, ele ressuscitou-o com a ajuda dos franceses.

“Queremos desenvolver a propulsão nuclear para propósitos defensivos, jamais ofensivos.” - Dilma Rousseff (em inglês)

Uma arma nuclear defensiva pode muito bem tornar-se ofensiva nas devidas circunstâncias. Para além do mais, dadas as ligações políticas perigosas brasileiras não temos garantias de que este país não venda materiais nucleares a, e partilhe o seu know-how nuclear com regimes duvidosos. Temos a certeza absoluta de que o Presidente Lula não partilhou tecnologia e perícia com o Irão (dada a sua boa relação com o então Presidente Ahmadinejad)?

Nas relações internacionais, declarações como a acima citada servem para garantir aos países vizinhos a ausência de intenções beligerantes. Só que é impossível esconder o facto de o Brasil está em busca de um programa nuclear para fins militares. 
A vizinhança do Brasil incluí também os nossos irmãos e irmãs de África, a quem estamos ligados pelo oceano atlântico e por uma longa História. Este ano, iremos ser os anfitriões do Encontro da CPLP. Dessa comunidade de 9 membros, 6 são africanos. O Brasil olha para África com amizade e respeito, pronto para levar a cabo projectos que nos unirão ainda mais. 
O Brasil ganha muito dinheiro em África. Daí a referência feita. Mas Angola, Moçambique e Cabo Verde questionam o nível de respeito que o Brasil sente pelos países africanos de língua oficial portuguesa quando aquele assinou um acordo bilateral com Portugal para se alterar a forma como se escreve o português, sem consultar as nações africanas afectadas por tal acordo. Na minha perspectiva, o Brasil pretende dominar não só as ex-colónias africanas (já que se considera mais poderoso que elas – graças à Goldman Sachs) mas também a  antiga metrópole.

O Presidente Michel Temer também falou de desenvolvimento. O que é engraçado, vindo de um dos países mais deploráveis em termos de desenvolvimento humano. A bem da verdade, o Brasil evoluiu bastante à superfície, mas em termos concretos a miséria ainda impera no país. Para além do mais, a classe média fictícia criada pelo Presidente Lula teve um custo altíssimo (económica e politicamente – perguntem a Dilma Rousseff).
Impugnar um Presidente não é certamente algo trivial, num regime democrático. Mas não há democracia sem um estado de direito – sem regras aplicáveis a todos, incluindo os mais poderosos. É isto que o Brasil está a mostrar ao mundo. E isto é algo que está a ser feito a meio de um processo de limpeza do sistema político. 

O Sr Temer está a legitimar a sua posição ao explicar que está no poder porque um sistema judicial independente imperou, dado que um crime foi cometido – não porque ele deu um golpe de estado.

O presidente brasileiro também mencionou os jogos olímpicos: foram um grande sucesso e um exemplo de coexistência pacífica. Bem, assistimos a uma cegueira conveniente (e.g. alguns atletas muçulmanos, oriundos dos países do médio oriente, recusaram-se ou a competir com israelitas ou a entrar no mesmo autocarro que eles – não só isto é um pobre exemplo de coexistência pacífica como também uma violação das regras do comité olímpico ao misturar política com desporto. Esses atletas foram castigados? Não. O mesmo aconteceu em Londres, há 4 anos? Não. Retirem as vossas ilações).

Conclusão

O Brasil tentou posicionar-se como um país equilibrado que pode contribuir para as conversações nucleares à volta do mundo. Procura obter a visibilidade internacional através do programa nuclear da Coreia do Norte; tal como o presidente Lula procurou fazer com o programa nuclear iraniano.

Mas infelizmente, o Brasil não está a aprender as devidas lições: Temer enviou sinais a Israel de que não irá liderar o Brasil numa nova era diplomática e continuará a apoiar a OLP. O que é irónico quando o presidente sugeriu que queria combater a praga do terrorismo – um objectivo difícil de atingir quando há países que continuam a dar apoio a um dos principais pilares da Jihad Global.


(Imagem: Michel Temer - 71ª Assembleia Geral ONU)

[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

Comentários

  1. Esse aí não é o nosso presidente!

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    1. Olá Anónimo :D!

      Bem, a lei diz o contrário. E o mundo aceitou.
      Obrigada pelo seu comentário. :D

      Cumprimentos

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  2. O brasil fala fala fala mas também tem muitos esqueletos no armário. Não acredito na carinha de santos deles, mana.

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    1. Olá Carlitos :D!

      Tudo bem, mano?
      É, é isso mesmo. E nós pretendemos descobrir que esqueletos são esses. Ninguém é santo em política, meu caro. Ninguém.

      Carlitos, obrigada pelo teu comentário :D.

      Um abraço

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