Crise em Angola: Karma Político?


Os Estados Unidos da América pressionaram Angola de modo a levá-la a pedir assistência financeira ao FMI. Angola, tal como muitos dos países produtores petrolíferos, acomodou-se e não se preparou para qualquer alteração política e económica; por isso, agora está a pagar um preço avultado, fazendo com que toda a gente (desde o cidadão comum até às elites) entre numa espiral de incertezas. Não obstante, por que é que os EUA decidiram reiniciar a sua pressão sobre Luanda?

Os Objectivos Americanos para Angola

“A política externa dos Estados Unidos para Angola centra-se na promoção e no fortalecimento das instituições democráticas angolanas, na promoção da prosperidade económica, na melhoria da saúde, e na consolidação da paz e da segurança, incluindo a segurança marítima.” (fonte, em Inglês)

Os EUA levam os seus valores muito a sério, especialmente o poder do povo (i.e. Democracia); logo, apesar dos processos democráticos – i.e. Eleições livres – este país é tudo menos democrático: o sistema político é oligarca, não existe uma imprensa livre, a dissidência não é tolerada, a mesma família é que controla o país desde 1979 e o povo (como um todo) não beneficia da riqueza nacional. Tais características podem ter sido, em tempos, toleradas pelos EUA (quando a América apreciava navegar entre os seus interesses e os seus valores) mas nos dias de hoje  elas são menos toleradas, quando os Estados Unidos parecem colocar os seus valores em primeiro lugar e só depois os seus interesses. Para além do mais, devido à diminuída dependência do petróleo do mundo ocidental, os estados não sentem a necessidade de comprometer os seus valores básicos em troca do ouro negro; logo, irão exercer pressão até que Angola se verga.

Não obstante, a pressão não deverá ser excessiva a ponto de quebrar aquele país africano em pedaços porque fazê-lo iria minar a segurança regional – quando pensamos no papel que Angola desempenha na RDC e no Congo-Brazzaville, com consequências de maior alcance para a África central.

Falta de Diversificação de Investimento

Angola deveria ter diversificado a sua carteira de investimentos, mas não o fez. Este país tem um número elevado de reservas de gás natural que não estão a ser exploradas apesar do interesse da parte de investidores.
Pensa-se que a maior parte das águas profundas e ultra-profundas sejam áreas de prospecção que permanecem por explorar – Natural Gas Resources

Qualquer país que dependa somente de uma fonte de rendimentos irá eventualmente sofrer uma crise económica aquando as flutuações de preço e procura do produto primariamente exportado. O petróleo representa 95% das exportações angolanas; e agora o país está a pagar o preço de não ter diversificado a sua indústria (a Nigéria, por exemplo, desenvolveu o seu sector agrícola para exportação e a sua indústria de gás natural). Angola poderia ser um centro da indústria de diamantes, tal como a África do Sul e a Namíbia, só que até esta área permanece subdesenvolvida:
Charles Skinner, o chefe do grupo de exploração da De Beers, estimou que 90% da área de prospecção em Angola permanece por explorar – Angola, 100 years later

Isto acontece devido ao sistema oligarca do país, dirigido pela filha do Presidente José Eduardo dos Santos – Isabel dos Santos? Talvez. Ou talvez seja por causa de outro motivo: a indústria dos diamantes, hoje em dia, exige mais transparência que a petrolífera. Para além do mais, o petróleo tem tido mais procura e gera lucros mais depressa, enriquecendo assim toda a Oligarquia a um ritmo mais rápido.

Karma Político

Os problemas angolanos com divisas começaram quando o Bank of America decidiu, em 2014, cortar o fornecimento de dólares. A instituição bancária americana não explicou a razão que sustenta tal decisão mas pensamos que seja uma retaliação política – uma que vai para além da simples falta de um comportamento verdadeiramente democrático.

Angola tem um historial rico de política externa intervencionista: conseguiu ser bem-sucedida na mudança de regimes pouco amigáveis no Zimbabué (1980), na Namíbia (1990), na África do Sul (1994), do Zaire (agora RDC, em 1997), e o Congo-Brazzaville (1998). Ainda hoje continua a fazer ingerência nos assuntos internos dos países da região que a circunda, especialmente na RDC e no Congo-Brazzaville. Tudo bem: faz parte do jogo político. Contudo, o que parece ter aborrecido os EUA foi o intel de que Angola (à semelhança da Arábia Saudita) faz um jogo duplo: apoia grupos terroristas islâmicos na RDC e noutros países (contrariando assim a missão da AFRICOM), ao mesmo tempo que dá assistência a Kabila e a servir os interesses americanos na região.

Certamente, os EUA já haviam avisado Angola acerca das suas actividades subversivas que se opõem à luta americana, e da maior parte do mundo, contra a Jihad Global e a manutenção da Paz & Segurança Internacionais (de modo a assegurar a prosperidade global). Mas a liderança angolana ou está a ignorar os avisos ou então não consegue admitir que a situação se descontrolou e que não consegue ter mão nela (para não admitir fraqueza, agora que Angola deseja projectar-se como uma potência regional). Por isso agora, a Administração Obama, como forma de aviso, desestabilizou a economia e o equilíbrio social angolano (que facilmente poderá resultar numa crise política com vista na mudança de regime).

Ponto de reflexão: será a crise angolana o resultado da ingerência levada a cabo pela Nigéria (que agora é a sua directa concorrência), pela África do Sul (que perdeu a sua posição para a Nigéria, e agora não está com vontade de ser ultrapassada por Angola) ou pela RDC e Congo-Brazzaville – países cujos representantes oficiais têm passado muito tempo em Washington?

Qualquer que seja a resposta, pode-se dizer que Angola está a sofrer um Karma Político. Infelizmente, o povo angolano irá mais uma vez pagar o preço até que se lide com o problema.


[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

Comentários

  1. Não sabia que angola patrocinava terroristas. Mas estamos a falar de terrorismo islâmico?

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    1. Olá Anónimo :D!

      Pois é, nem todos os sabem, meu caro. Digamos que o terrorismo islâmico está incluído, mas não se cinge somente a ele, percebe?

      Anónimo, obrigada pelo seu comentário :D.

      Cumprimentos

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  2. Olá, Max!
    Sim, senhor! Angola a seguir as pisadas do Brasil de Lula da Silva; este até se deu ao luxo de permitir que o Brasil na fronteira triplice fosse um ninho de extremistas islâmicos; porque para se manter no poder a esquerda faz de "tudo um muito" como aceitar apoios ilícitos que mais tarde se revelam contra-producentes.
    E agora josé Eduardo dos Santos para manter o seu regime fez de "tudo um muito" como apoiar grupos que só estão a atrasar a marcha de África. A Internacional Socialista deveria mudar de cartilha: que falta de imaginação política
    Logo vi que havia algo por explicar, quando José Eduardo dos Santos mandou arrasar as mesquitas no seu país - atitude por mim apoiada - mas afinal estava na queima de arquivo.
    Muito me contas Max...

    Beijocas

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    1. Olá Lenny :D!

      Bem, numa das suas entrevistas o Presidente dos Santos até invocou o seu "amigo" Lula, dizendo que aspirava ser como ele lol...que pândego, agora que olhamos para um ex-presidente em desgraça. Será que José Eduardo dos Santos quer mesmo ser como Lula?

      Isso mesmo: era uma queima de arquivo. Nada do que parecer ser é...

      Lenny, obrigada pelo teu super comentário :D.

      Beijocas

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