UNGA 2015: O Discurso Desapontante do Presidente Nyusi


O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, fez o seu primeiro discurso perante a UNGA onde deu os parabéns à ONU pelo seu 70º Aniversário (louvando os seus feitos e criticando as áreas onde falhou), apelou à reforma do Conselho de Segurança, centrou-se no programa de estratégia de desenvolvimento pós-2015 da ONU, abordou a crise da migração e as relações EUA-Cuba, e finalizou dando os parabéns a Moçambique pelo 40º Aniversário da sua independência.

Crítica à ONU
“Não seremos justos, para connosco nem para os nossos povos e gerações futuras, se ignorarmos os desafios e falhanços que devem ser ultrapassados. As Nações Unidas falharam na garantia da paz e segurança internacionais, no todo. Velhos e novos desafios nascem, conflitos inter-estados e intra-estado proliferam, especialmente em África e no Médio Oriente.” 

Uma salva de palmas ao Presidente Nyusi por ter tido a coragem de criticar este orgão internacional (depois do Presidente Putin ter pintado um cenário rosa da ONU). Como líder africano, era sua obrigação fazê-lo quando, por exemplo, Soldados das missões de paz da ONU violaram, e continuam a violar, as crianças e mulheres que eram/são suposto protegerem. Para além do mais, a ONU foi bem sucedida a prevenir guerras destrutivas no Ocidente, mas falhou redondamente (desde o princípio) na prevenção de guerras no resto do mundo (Selah).

“A descolonização ainda está por completar, o subdesenvolvimento, exacerbado pela problemática de refugiados e imigrantes ilegais, estão longe de ficar no passado.”

“Descolonização ainda por completar” - espero sinceramente que Filipe Nyusi se esteja a referir ao sonho da independência que ainda está por concretizar ( devido, em grande parte, à dependência de ajuda internacional e à corrupção corrosiva africana). Também espero que o presidente não esteja a seguir políticas influenciadas pelos Amigos Paquistaneses de Moçambique (i.e. Senhor da Drogas Suleimani & Cº).

“Não estaremos em posição de identificar acções eficazes se não reconhecermos que falhámos enquanto comunidade internacional.”

Certo, a comunidade internacional falhou: então, o que propõe Moçambique? Quais as soluções para estes problemas? O Presidente Nyusi não apresentou nenhuma solução, não nos disse como é que a liderança moçambicana pretende contribuir para tornar África, o mundo, um lugar melhor para se viver.

Sucessos de Moçambique
“Para Moçambique, na área da paz e segurança internacionais, o empenho para a acção inclui, entre muitas coisas, a adopção e implementação de estruturas eficazes para a prevenção e gestão de conflitos, assim como a necessidade de concluir a Convenção contra o terrorismo. Dever-se-ia dar mais ênfase à diplomacia preventiva.”

Verborreia insignificante. Quais são essas estruturas eficazes? Como é que Moçambique poderá forçar a conclusão da Convenção contra o Terrorismo? Diplomacia preventiva: como é que Moçambique poderá contribuir para alcançar esse objectivo? O discurso do Presidente Nyusi não respondeu a estas questões.

“Tal como outros países, eu acredito que Moçambique tenha alcançado sucessos incríveis (..) Digno de nota é a expansão do acesso à educação, equilíbrio de género no acesso à educação primária e o cumprimento do objectivo da redução da mortalidade infantil.”

Pelo que as nossas fontes nos dizem, o acesso ao ensino superior também aumentou, o que quer dizer que Moçambique está a ter cada vez mais mão-de-obra qualificada; contudo, Moçambique ainda tem muitos problemas que estão no caminho do real progresso: taxas de mortalidade altas devido a doenças (principalmente o HIV); a esperança média de vida ainda é baixa; as taxas de crime são altíssimas (raptos e assassinatos); e a corrupção corrosiva. Está na hora de abandonar a conversa para o boi-ocidental dormir e passar ao “comprometimento para a acção” (tema da ONU para 2015).

“Tenho o prazer de anunciar que Mozambique completou com sucesso o Programa de Desminagem.”

Muitos parabéns. Este é de facto um sucesso que abre as portas à expansão de programas agrícolas e à criação de indústria, por exemplo.

Estratégia de Desenvolvimento Pós-2015 da ONU
“A Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 reflecte a nossa ambição colectiva para transformar o mundo até 20130. A Agenda traz de volta a dignidade humana ao combater a pobreza, proteger as pessoas e o planeta.” 

O Pres. Filipe Nyusi passou a maior parte do seu discurso a rondar esta dita agenda – não quero parecer desinteressada mas o foco excessivo no tema só me fez pensar “quanto é que a liderança vai ganhar com isto?” e a seguir o Presidente perdeu a minha atenção, principalmente porque sem resolver os acima mencionados problemas (parte integrante to programa de desenvolvimento anterior) é tolo prosseguir para um novo programa.
Filipe Nyusi dever-se-ia ter concentrado mais em informar o mundo o que pretende fazer para aumentar o sector privado em Moçambique, visto que só a criação de indústria, de emprego, irá acabar com a miséria [não necessariamente a pobreza] e garantir o desenvolvimento humano sustentável; não programas de ajuda da ONU.

Reforma do UNSC
“A reforma do Conselho de Segurança é um dos pilares ocultos para o sucesso da implementação da Agenda para o Desenvolvimento Pós-2015, que não pode ser subestimado.”

A reforma do UNSC: para se substituir por quem? Por países que não têm um desenvolvimento real (i.e. desenvolvimento humano) como o Brasil, o Mali, Malawi, Zimbabwe? Esqueçam a democracia porque estou a falar de acesso universal a água potável, esgotos, estação de tratamento de águas residuais, infraestruturas, sistemas de transporte, internet, salário justo, educação grátis e sistemas de saúde nacionais etc – por exemplo, terão todos os moçambicanos acesso a estes? Não. Logo, Sr Presidente, não se distraia.

Crise Migratória
“Hoje estamos empenhados em adoptar medidas que minimizem a luta destas pessoas (migrantes)”

O que é que isto quer dizer em termos concretos? O Presidente não explicou.

Aniversário da Independência
“O ano de 2015 é também especial para Moçambique. No passado dia 25 de Junho celebrámos 40 anos de independência. Já não somos um estado adolescente. No passado dia 16 de Setembro celebrámos 40 anos de cooperação com a ONU, logo jubilamos nesta casa e as Nações Unidas dever-se-iam sentir orgulhosas pela estabilidade e crescimento do nosso país. A ONU deveria perpetuar o seu apoio.”

Parabéns pelos teus 40 anos, Moza. É pena que metade deles tenha sido desperdiçada numa guerra civil sem sentido e a outra metade tenha sido esbanjada com a corrupção corrosiva e uma ideologia nefasta que arrestou o potencial de um país rico como Moçambique. Por exemplo, porque é que o país não tem um mercado absolutamente livre (com livre circulação de capitais); porque é que para se investir tem de ser ter um sócio nativo (geralmente do partido no poder)? A ideologia Marxistas tem de ser purgada de vez do mercado moçambicano – não parcialmente só para agradar orgãos internacionais, como a ONU e a UE, de modo a se obterem mais fundos “de ajuda”. Não obstante, parabéns à ONUMOZ pelo seu sucesso.

Avaliação Final: o discurso do Presidente Nyusi foi praticamente um desapontamento porque ele não abordou questões vitais (i.e. os seus esforços para normalizar o ambiento político com a RENAMO e a Corrupção Corrosiva que assola o seu país [e o seu partido]) nem apresentou um argumento infalível para atrair investidores. Se ele deseja ser o Presidente da Mudança, ele precisa de jogar pesado de modo a tornar Moçambique um actor relevante do palco do século XXI. Este discurso diminuiu o país.

(Imagem Downloaded da gadeabte.un.org)

Comentários

  1. Olá, Max!
    Nasci em Moçambique; quero que Moçambique seja um país de sucesso; quero que os dirigentes Moçambicanos de uma vez por todas se concentrem no povo moçambicano e não na sua ideologia marxista-leninista furada.
    O Presidente Nyusi deve abandonar de uma vez por todas a retórica do colonialismo e dos pedidos de doações porque não há país em África que tenha um potencial tão grande como Moçambique. Os jovens entre 30 e 18 anos estão-se nas tintas para esse tipo de retórica, eles querem é saber o que podem fazer para melhorar o seu país e quando terão um líder (não um dirigente) que os ajude a põr Moçambique no mapa dos países desenvolvidos.
    Os jovens moçambicanos quer um líder moderno que lhes transmita segurança no seu país, querem um líder com coragem e tomates que se comprometa de uma vez por todas fazer um pacto de regime com a maior partido da oposição a Renamo. Os moços estão fartos das tentativas de assassinato contra a Dhlakama e as infíndaveis ameaças do país regressar a uma guerra cívil sem sentido.
    O presidente Nyusi deveria tornar a página e proporcionar um fim feliz a todos os que passaram por uma guerra cívil horrorosa e começar de facto a governar o país para enaltecer o povo de Moçambique: já basta de corrupções, estrangeirada a dar cartas na política moçambicana; gente a enriquecer sem ter feito nada por isso, extorção e sabotagem económica etc etc.
    Já cheira mal e é devastador ver Moçambique no mesmo patamar de países miseráveis e sem potencial humano.
    Nyusi move on, be that guy, be the beacon for people and by the people, and if you are afraid speak out and the people of Mozambique will help you!
    Bom trabalho Max.

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    1. Olá Lenny :D!

      "quero que os dirigentes Moçambicanos de uma vez por todas se concentrem no povo moçambicano e não na sua ideologia marxista-leninista furada."

      Eu também. O povo é que acaba sempre por pagar com essa estupidez que é o marxismo (e crap limitada). Queremos chegar a Moza e ver o desenvolvimento humano; porque neste momento o desenvolvimento é só no papel. Olhem para Cabo Verde (um arquipélago sem riquezas naturais, praticamente árido mas que soube trabalhar com o que tem e desenvolver o seu país a sério, colocando as pessoas em primeiro lugar) e sigam o exemplo.

      Lenny, obrigada pelo teu comentário fabuloso :D. Como sempre.

      Beijocas

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  2. Como eu disse no Dissecting Society, não é fácil falar no ambiente em que ele opera. Quem sabe se a própria frelimo não o mataria? Ou mesmo esse suleiman?

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  3. Concordo com a celeste mas quero dizer uma coisa aqui: Viva Moza! Eu acredito em vocês!

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    1. Olá Raquel :D!

      Obrigada pelo teu comentário e viva Moza! :)

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  4. Respostas
    1. Olá Carla :D!

      Foi, de facto.
      Obrigada pelo teu comentário :D.

      Beijocas

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  5. Xi, andou muito ás voltas! Mas foi o primeiro discurso, né? Vamos lá ver o próximo.

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    1. Olá Leila :D!

      Andou. Sim, veremos como se passará tudo em 2016 :).
      Linda, obrigada pelo teu comentário.

      Beijocas

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