Hizbullah: A Arte do Terrorismo

Militantes do Hizbullah (Fonte: Google Imagens)

Introdução
O Hizbullah é um grupo militante fundado por clérigos xiítas libaneses, inspirados pelos ensinamentos de Mohammed Baqr as-Sadr (iraque) e do Ayatollah Khomeini (irão). A organização está baseada no sul do líbano, com uma forte influência no Vale de Beka'a; e os seus objectivos são a destruição do estado de israel, a eliminação da influência ocidental no médio oriente e o estabelecimento de uma teocracia no líbano (inspirado na ideologia xiíta de Ruholla Khomeini "Temos de [segundo a Lei Islâmica] lutar pelo estabelecimento do estado islâmico..."[Ler]).
Segundo o GTD, desde o seu começo, pouco mais de 50% (189 ataques) dos ataques levados a cabo pelo Hizbullah, geraram zero fatalidades e cerca de 41% (157 ataques) resultaram entre 1 a 10 fatalidades.
Estes números refutam amplamente o mito do terrorismo, discutido por Gary LaFree, que afirma que "a maioria dos ataques terroristas são incrivelmente letais". Os ataques mais letais do Hizbullah (4%) coincidiram com a Primeira Guerra do Líbano (quando os suicídios bombistas eram utilizados como armas tácticas), com períodos de cimentação de poder (que aumentou a visibilidade do grupo e o seu descontentamento político ao mesmo tempo que demonstrou o nível de eficácia mais a predisposição para se sacrificar pela sua causa) e com a Segunda Guerra do Líbano. Contudo, o GTD revela que esses ataques (mínimo 11 - máximo 101 fatalidades) foram pequenos em número (16); apoiando, logo, a ideia de que - patrocinado pelo irão - o Hizbullah teve acesso a recursos para matar mas ao mesmo tempo era mantido sob controle, de modo a não alienar a sua base de apoio e evitar "meter-se em demasiados problemas" (Victor Asal).

Ataques, Armas & Alvos de eleição
O GTD também mostra que, desde a sua fundação (em 1982) até 2012, o Hizbullah perpetrou 376 ataques e, tem operado principalmente na região MENA (361 ataques) e na Europa Ocidental (11 ataques). As actividades do Hizbullah têm-se dividido em quatro períodos distintos:
1- O período de 1982-1990: as actividades do grupo começaram, logo após a sua criação, coincidindo com a Primeira Guerra do Líbano (1975-1990) e quando lutou contra alvos americanos, franceses e israelitas.
2- O período de 1990-2001: quando o Hizbullah levou a cabo o maior número de ataques num mesmo ano (+35 ataques em 1994; e quase 28 incidentes em 1999). Este período coincide com a Guerra do Sul do Líbano e com o momento em que o grupo tomou a decisão de passar de Grupo Terrorista a uma Organização Terrorista Híbrida (i.e. uma entidade com duas vertentes: o ramo militar/paramilitar [que pratica terrorismo] e o ramo político [que participa em processos democráticos legítimos]) e, logo, com uma clara necessidade de começar a consolidar o seu poder.
3- O período de 2001-2008: que coincide com a fase em que os ataques terroristas foram usados contra a oposição, no contexto da Segunda Guerra do Líbano (2006) e do motim de 2008.
4- O período de 2012: o Hizbullah levou a cabo ataques terroristas fora do líbano (6 no bahrain e 1 na bulgária). Os incidentes nas nações do golfo fizeram parte do envolvimento do grupo na Guerra Civil da Síria; o ataque em Burgas fez parte da guerra contínua contra Israel.

Desde que começou a operar, o Hizbullah ataca os seus alvos (que são primariamente as forças militares [128 ataques], terroristas [87 ataques], cidadãos privados [52 ataques] e alvos governamentais/diplomáticos [33 ataques]) com Explosivos/Bombas/Dinamite, 78% das vezes; e com armas, 19% das vezes em que cometeu actos terroristas.

Radicalização Individual
As razões pelas quais as pessoas se juntam ao Hizbullah têm evoluído ao longo do tempo:

  • Numa primeira fase, os indivíduos juntavam-se ao grupo porque sentiam que a Ummah não poderia tolerar "agressão, injustiça e humilhação"[Ler]; e para atingir esse objectivo deveriam resistir à ocupação israelita, no sul do líbano; arrancar a presença americana do país e lutar contra os cristãos (envolvidos na primeira Guerra Civil). 
  • Numa segunda fase, os indivíduos lutaram nas fileiras do Hizbullah porque eles não poderiam aceitar viver com israel a seu lado, já que a maioria viveu num ambiente hostil ao estado judaico. Este sentimento foi descrito pelo Sheikh Khodr Noureddine (o líder político do Hizbullah) "As nossas crenças islâmicas fazem com que estes jovens se recusem a aceitar a injustiça. Ele farão qualquer coisa para resistir a Israel. Eu sei que o Ocidente não compreende, mas a nossa juventude não pode viver com israel."
  • Numa terceira fase, os jovens juntam-se ao Hizbullah para ajudar os xiítas a derrotar os sunitas, uma situação intimamente relacionada com a guerra proxy travada, na síria, entre o irão e as nações do golfo. 

Em suma, apesar dos alvos do Hizbullah se terem alterado ao longo dos tempos; é fácil reconhecer que o descontentamento original permaneceu, sendo a motivação que compele os jovens a juntarem-se às fileiras do Partido de Deus (e seria interessante perguntar se essa permanência é causada pela própria organização, que nutre esse descontentamento de modo a legitimar as suas acções).

O Hizbullah, no princípio, destacou as aflições libanesas - sentimentos de agressão, injustiça e humilhação causados pela ocupação estrangeira - e depois expandiu-as para toda a Ummah. A comunidade local xiíta estava disposta a ser influenciada pela (i.e. segundo Bill Braniff, demonstrou uma abertura cognitiva à) ideologia do Hizbullah que basicamente afirmou que os seus problemas só poderiam ser resolvidos através da acção "Não temos alternativa senão confrontar a agressão através do sacrifício" (in Hizbullah's Open Letter, Our Fight; num claro incitamento à mobilização para a violência).

A ocupação estrangeira e o sentimento anti-israel serviram de base à aceitação para agir violentamente como forma de curar as moléstias sociais dos libaneses, e logo da Ummah. Ao juntarem-se ao Hizbullah e ao seguirem a ideologia do grupo, os indivíduos teriam como propósito ou reconquistar a significância social (que a comunidade perdera) ou conquistar uma significância pessoal (que não possuiam antes); como? Tal como o professor Arie Kriglanski disse, ao "lutar contra o inimigo através do terror, através da violência, através da inflicção de mal e danos sobre" aqueles que usuparam a sua significância e respeito.

Dinâmica do Grupo
Os objectivos do Hizbullah são:
a) A aniquilação da influência dos poderes "imperialistas" ("O imperialismo mundial que é hostil ao islão.")
b) O estabelecimento de um regime islâmico ("[...] o governo islâmico que, por si só, é capaz de garantir a justiça e a liberdade para todos. Somente um regime islâmico pode para qualquer tentativa futura de infiltração imperialista no nosso país.")
c) A destruição do Estado do Israel ("A nossa luta só terminará quando esta entidade [israel] fôr obliterada").

A estratégia do Hizbullah é essencialmente uma de Exaustão; tal como afirmou Hassan Nasrallah "O nosso lema é a guerra de exaustão e provocar o maior número possível de perdas ao inimigo"; contudo, durante a Segunda Guerra do Líbano, o grupo também utilizou estrategicamente a Provocação para levar o IDF a atingir certas localizações, a partir das quais estariam a operar (sendo estas, muitas vezes, objectos civis), para que quando ocorressem grandes baixas civis, o Hizbullah pudesse usá-las contra israel junto da media - como forma de diminuir a legitimidade do governo israelita, ao mesmo tempo que aumentava a legitimidade da luta do Hizbullah junto da opinião pública.
A táctica do Hizbullah de justapor a exaustão e a provocação apoia a ideia de Andrew Jydd e de Barbara Walter de que as mencionadas estratégias estão intimamente relacionadas.

O Hizbullah (uma organização com mais de 25 anos) parece contradizer a ideia do Prof. Viktor Asal de que as organizações terroristas mais antigas e com mais experiências são as mais letais (por terem mais conhecimento, mais tempo para desenvolver a experiência e aprender com os erros do passado), porque (tal como previamente mencionado) 91% dos ataques do grupo não foram assim tão letais quanto isso; ainda que se pudesse dizer que esse facto tenha ocorrido devido à noção do Prof. Asal de que os Países Patrocinadores (no caso do Hizbullah: o irão) certificam-se de que os grupos terroristas "matam menos pessoas" afim de evitar atrair a atenção indesejável de certos governos.

Benefícios & Custos
O envolvimento do Hizbullah na Segunda Guerra do Líbano estimulou a capacidade da organização para recrutar (dada a sua presumida legitimidade), para angariar fundos e apoio.
Por outro lado, o envolvimento do Hizbullah na guerra civil síria fez ricochete, já que muitos libaneses consideraram esse envolvimento como uma transposição dos limites da violência; tendo resultado numa perda de apoio (especialmente de entre a população sunita).
No geral, a estratégia do Partido de Deus gerou mais benefícios que custos: reuniu a comunidade muçulmana para depôr o governo cristão; resultou na retirada das forças israelitas do sul do líbano em 2000; e estabeleceu a agenda política libanesa.

Tácticas & Recrutamento
O Hizbullah especializou-se na guerra da informação. Durante o conflito de 2006, a organização "conduziu uma campanha de propaganda hábil desenhada para desmoralizar israel, invocar simpatia pelo Hizbullah e aumentar a pressão internacional para um cessar-fogo."[Ler] e para esse fim a media desempenhou um papel crucial.
O Hizbullah é proprietário e opera a Al-Manar (um canal de TV por satélite), a Al-Nour (uma estação de rádio), uma tipografia, um laboratório de informática e websites em sete línguas diferentes[Ler] com o objectivo de disseminar a sua propaganda via a, e promover-se à, sua audiência:
- A população libanesa (para transmitir a mensagem que o Hizbullah é forte, independente, nacionalista e não-sectário).
- O mundo árabe (para se dirigir a outros grupos extremistas focando os seus denominadores comuns: ódio a israel, aos judeus e ao ocidente/EUA)
- A audiência ocidental (cujas emoções são manipuladas "através do uso de fotografias horríveis, por vezes falsificadas, para se posicionarem como vítimas e gerar sentimentos de ira contra o suposto invasor, israel.")
Os recursos mediáticos concederam ao Hizbullah a capacidade de se promover como um grupo terrorista proeminente e de alta qualidade, que cumpre o que diz.

Desde 1985 - através de actos violentos bem-sucedidos (que resultaram na retirada de forças estrangeiras do líbano) e do "despertar social-religioso" (i.e. educação e propaganda) - o Hizbullah tem sido capaz de expandir os seus esforços de recrutamento. Ao alimentar a ideologia da "Resistência Islâmica", a organização utiliza "sucessos [do passado] como instrumento de recrutamento, de incrementação do espírito de luta dos seus activistas, e para fortalecer os aspectos de sacrifício e determinação"[Ler]. Os recrutas da organização são oriundos de todas as classes sociais, dentro da comunidade xiíta: desde os estratos mais baixos (com pouca instrução) aos estratos médios e mais altos (com instrução e carreiras profissionais superiores). Inicialmente, o grupo concentrava-se mais na educação e treino dos jovens oriundos das camadas mais baixas; mas à medida que as circunstâncias políticas foram mudando, a organização começou a concentrar-se nos mais abastados, já que os recrutas das camadas mais altas providenciavam ao Hizbullah habilidades em campos específicos: medicina, informática, engenharia e educação (aumentando, assim, as capacidades ofensivas, tácticas, defensivas e de sustento do grupo). Estes operativos hábeis garantiam, à organização, sucessos monumentais (i.e. maior letalidade) tanto no campo de batalha como para lá dele; ajudavam também a animar a base de suporte xiíta, no líbano e no estrangeiro.
Em suma, através da media (um veículo para a notoriedade) e da mobilização de recrutas de todos as escalas sociais, o Hizbullah pôde estimular a sua performance e garantir a sua sobrevivência. A sua estratégia organizacional resultou na formação de uma entidade que se tornou a maior força contra israel e contra o corpo político internacional (ainda que em arenas diferentes).

Conclusão
O Hizbullah é uma organização muito complexa e devido ao seu estatuto híbrido tem sido cada vez mais difícil combater as suas actividades terroristas, especialmente quando algumas nações se recusam a designar toda a organização como uma entidade terrorista - dando, deste modo, espaço para o grupo continuar a disseminar a sua ideologia, recrutar jovens, abrigar-se e reagrupar-se em portos de refúgio (e.g. sudão e somália), forjar alianças (e.g. Al-Qaeda, Al-Shabaab, FARC), criar nódulos de financiamento e comunicação. Não obstante, ao se formar uma estratégia de contraterrorismo (CT) é vital o foco nas operações de financiamento destes grupos uma vez que estas servem de base para todas as outras funções - ao se interromper a corrente financeira do Partido de Deus, as forças de CT poderão limitar o sucesso do grupo e reduzir o alcance das suas actividades à volta do mundo.

Por exemplo, tal como Carl Wege colocou e bem, as actividade dos Hizbullah em África têm sido amplamente ignoradas apesar do grupo ser bastantes activo ali. Os operativos, associados e simpatizantes do Hizbullah participam em actividades que ajudam a sustentar a organização no líbano. Alguns exemplos dessas actividades são: comércio de diamantes ilegais(e.g. no Congo); empresas legítimas (principalmente na África Ocidental para lavagem de dinheiro e camuflagem de dinheiros); participação directa no crime organizado (que incluem extorsão de homens de negócios libaneses e narco-tráfico) e contribuições para várias instituições sociais do Hizbullah (colectadas em dinheiro vivo e depois transportadas para o médio oriente por estafetas).
Tendo dito isto, as medidas de CT como aquelas levadas a cabo - por exemplo - pela AFRICOM (com o objectivo de deter as ameaças de organizações extremistas, negar-lhes refúgio, e interrromper as suas operações desestabilizantes) e pelo Departamento do Tesouro que (juntamente com os aliados dos EUA, como por exemplo a União Europeia) formulou programas como o TFTP (Terrorist Finance Tracking Program) que permitiu que os EUA e aliados pudessem seguir o dinheiro de modo a "identificar e localizar os operativos e seus financiadores; traçar redes terroristas, e ajudar a manter dinheiros fora das suas mãos."[Ler]; são importantes para começar a interromper os vários canais que alimentam os nódulos do Hizbullah; e que logo, o mantêm vivo.


Comentários

  1. É incrivel como alguns grupos se especializam em matar gente simplesmente porque odeiam outros.

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