A Missão Inglória da Nova Presidente Centroafricana

Catherine Samba-Panza (Fonte: Google Images)
A República Centroafricana (RCA) tem uma nova presidente interina: Catherine Samba-Panza. Esta é a primeira líder, do sexo feminino, a liderar a RCA e como legado recebeu o país num sangrento caos.

Antes de ter sido nomeada como presidente interina, a senhora Samba-Panza foi instituída presidente da câmara de Bangui no ano passado; antes de ter ido para a política a nova presidente foi empresária e exerceu direito comercial.
O seu papel como actual líder é re-organizar a RCA, amenizar as tensões entre cristãos e muçulmanos e, preparar o país para as eleições presidenciais no próximo ano; o que não será fácil uma vez que, já antes de Michél Djotodia e o seu gangue islâmico terem decidido tomar a RCA de assalto, o país esteve sempre em problemas (i.e. desde a sua independência a nação sofreu vários períodos de instabilidade política) e, apesar de ser um país extremamente rico em recursos naturais, é considerado um dos países mais pobres do mundo.

Desde que tomou posse, a presidente Samba-Panza jurou que iria proteger os muçulmanos centroafricanos. A nova líder nasceu no Chade, logo as suas palavras podem ser interpretradas como sendo uma mensagem directa ao presidente Idriss Déby (que há muito que tem estado profundamente envolvido nos assuntos internos centroafrianos) como que lhe transmitindo que se ele controlar os elementos do Séléka, provenientes do Chade, e as suas forças de manuntenção de paz (integradas na ONU, que estão a ser acusadas de dar assistência aos rebeldes islâmicos); se ele a ajudar a colocar a RCA em ordem ao mesmo tempo compreendendo que ela deve proteger os interesses do seu país, ela estará disposta a ajudá-lo a fazer do Chade o país com maior influência na região.
Samba-Panza sabe que ainda que os cidadãos da República Centroafricana não vejam com bons olhos a ingerência do Chade nos assuntos internos do seu país; é estrategicamente conveniente não antagonizar Idriss Déby uma vez que ele apoiou François Bozizé (em 2003) para uma década mais tarde retirar o seu apoio; e uma vez que Déby apoiou o golpe de estado de Michel Djotodia (em 2013) para um ano mais tarde ser o primeiro a exigir a sua demissão - quando os mencionados líderes não compreenderam que deveriam ter concatenado os seus interesses nacionais com os do Chade (i.e. controle da actividade continuada dos rebeldes chadianos - que se escondem no norte da RCA depois de terem participado nos ataques de 2008-2010 a N'Djamena e Abeché).

As mulheres centroafricanas estão esperançosas de que Catherine Samba-Panza vá fazer um bom trabalho porque na sua opinião "Como mulher, ela poderá compreender o sofrimento do povo, e como mãe, ela não tolerará toda esta mortandade" (Annette Ouango), "Os homens nada mais fizeram senão lutar, (...) Os homens, estão a lutar. Mas só estão a destruir o país. Talvez esta mulher possa mudar as coisas" (Judicaelle Mabongo, uma estudante de 18 anos). A maioria das nações africanas ainda é muito machista - apesar de hoje em dia se ouvirem muitas vozes (incluindo a de Joaquim Chissano, o ex-presidente moçambicano) a apelarem à igualdade do género e ao poder de decisão para as mulheres - por isso será interessante seguir como é que a presidente Samba-Panza irá lidar com os seus colegas e servir como elemento aglutinador na RCA.

A ordem tem de ser restaurada na República Centroafriana. A Operação Sangaris está-se a provar ser mais difícil do que o esperado (ao contrário da Operação Serval que apresentava características mais claras), uma vez que as tensões inter-religiosas apoderaram-se do conflito: as milícias cristãs decidiram reagir à audácia criminosa muçulmana (ainda que o mundo político e a media, mais uma vez para apaziguar as nações e accionistas muçulmanos, pareçam ter esquecido este detalhe e agora só se foquem nas acções das anti-Balaka). Na minha opinião, as várias denominações cristãs devem unir-se, enviar missionários para falar com as milícias e relembrar-lhes os valores cristãos - claro que, a princípio, ouvirão a clássica pergunta "Onde estavam vocês quando os muçulmanos começaram a chacinar as nossas famílias?" contudo a vingança precisa de parar eventualmente.

Desejamos à presidente Samba-Panza sucesso na sua missão inglória.

(Este blogue agradece a Scott Morgan pela sua contribuição)


Comentários


  1. Ola, Max!

    Também desejo a Madame le President uma governação auspiciosa,

    Quanto a sua promessa a população muçulmana: espero que ao fumarem o cachimbo da paz, os cristãos mantenham os muçulmanos debaixo de olho; porqua o islão é uma religião aberta à imoralidade e até amoralidade logo perdoar mas não esquecer.

    Obrigada, por não te esqueceres do Povo da RCA :)

    Ciao bella e bom trabalho!

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    1. Olá Lenny :D!

      Realmente, se este conflito nos ensinou algo (e espero que tenha ensinado também aos centroafricanos e africanos no geral) é que temos de estar de olho aberto porque 15% da população muçulmana pode querer tomar o país de assalto a qualquer momento, com o devido apoio.

      De nada, minha linda. Já sabes que nós aqui jamais nos esquecemos de África :).

      Lenny, obrigada pelo teu super comentário :D.

      Beijinhos

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