Comentando a Morte

Auto-retrato com a Morte a tocar violino de Arnold Böcklin

Morte como falecimento Físico
O corpo, tal como o conhecemos, chega a um ponto e (por uma qualquer razão) vê-se subjugado à mortalidade. Os que ficam para trás, geralmente atiram-se para o mar da tristeza e fazem luto pelos que partem. Contudo, muitos de nós celebram a morte dos nossos entes queridos já acreditamos que eles estão perante o início de um novo ciclo vital (certamente um melhor do que o vivido na terra). 
E no entanto, a melancolia invade-nos e acomoda-se na suavidade dos nossos corações. Porque choramos e desanimamos? Certamente não por causa dos "sortudos" que passaram para o outro lado; mas sim por nós próprios, pela própria sensação de abandono e solidão temporária.
Isto dá azo a uma questão: será correcto concentrarmo-nos em nós e na nossa dôr; em vez de nos alegrarmos com o facto da alma da pessoa amada estar livre do fardo da matéria e rezarmos para que vá em direcção à luz?

Morte como Símbolo
Na simbologia (necessária para a interpretação de sonhos, visões e [por exemplo] tarot), a morte significa a mudança, o corte das teias intrincadas da vida (simbolizado pela foice da Morte) e o fim de uma fase. Por essa razão, torna-se muito difícil para um esotérico transmitir ao seu consulente se alguém irá morrer ou não (já que a morte física não é vista como o fim, mas sim como a continuação do ciclo da existência, sujeita a mudanças [i.e. mutação do corpo]).
Isto dá azo a uma questão: sendo as pessoas tão ego-centradas como poderão ser informadas, para a sua paz de alma, sobre a data do falecimento do ente amado; qual o símbolo da morte física?

Morte como Transformação
Em cada vida, nascemos uma vez mas morremos várias vezes (o que implica uma série de re-nascimentos) antes de partirmos para o pós-vida.
Todos os dias, o nosso corpo testemunha o falecimento e o renascimento de cada célula (por exemplo, quando gozamos de plena saúde, o nosso cabelo cai e volta a crescer todos os dias). Quando adoecemos, morremos um pouco; quando convalescemos, nascemos de novo para uma vida excitante. De cada vez que experimentamos uma vicissitude existencial, a maneira como lidamos com a, e reagimos à, vida expira e depois renascemos para uma nova forma de inalar a existência. Quando um relacionamento acaba, o nosso coração tem tendência a renascer para o amor e a felicidade. 
Posto isto, a morte diária (que pode ser puxada e dolorosa, de maneiras diversas) representa uma oportunidade para a transformação total: diariamente os nossos corpos mutam; recuperar de uma doença equivale a uma profunda transformação do corpo, da mente e da alma (seja positiva ou negativamente); os obstáculos da vida, as discussões, os fins de relacionamentos, os corações partidos etc, todos propõem ser um verdadeiro caminho para a transformação, levando assim à redução do karma (para os místicos) ou a uma espécie de expiação. 
Isto dá azo a uma questão: se falecemos todos os dias, então por que é que temos tanto medo daquilo que nos apercebemos como sendo a Derradeira Morte? 

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